O inacreditável a favor da lógica
O futebol não é justo. Porém,
mais do que a vida é coerente. Se, em relação à partida entre Argentina e Suiça
perguntarmos quem jogou melhor só há uma resposta possível: a Suiça. Fizeram
uma partida admirável até porque jogaram contra todas as probabilidades. Apesar
da grande maioria dos brasileiros torcerem por uma derrota da Argentina, a
diferença entre a qualidade dos argentinos e dos suíços é como comparar água
com vinho e perguntar qual deles tem álcool. Repito: os suíços fizeram uma
partida fantástica. E isto ficou patente por quase terem conseguido ir até os pênaltis.
Levaram um gol quase no fim da prorrogação. Um feito fantástico e que valorizou
a derrota que tiveram, mas, não nos podemos enganar: seria preciso mais
qualidade para que pudessem derrotar a Argentina. Esquema tático, determinação,
esforço, sacrifício e uma abnegação quase desumana tiveram, mas, era uma tarefa
que estava escrito pelos deuses do futebol estava acima de suas forças.
A prova real disto foi o lance improvável,
quase sobrenatural, de Dzemailli,
que cabeceou acertando a trave argentina num dos últimos
lances da partida e a bola, por um desses insondáveis mistérios que separam as
derrotas das vitórias, ainda voltou e
bateu na canela do atacante antes de sair mansamente para fora. Seria um
castigo imerecido para a Argentina, que foi um time melhor o tempo todo, pois,
dizem que a Argentina jogou mal. Não é verdade. Foi a Suiça que jogou bem. Que
tornou o jogo uma disputa tática e que imobilizou o talento argentino. A
verdade verdadeira é que a Argentina fez sua melhor partida nesta Copa contra
um adversário que, mesmo não tendo 40% do seu talento, teve uma equipe
terrivelmente aplicada que não deu oportunidade de exercerem um futebol mais
criativo. Talvez Messi seja o melhor exemplo: fez uma boa partida em que tentou
muitas vezes ser Messi. Não foi porque não o deixaram ser com uma marcação
inflexível. Na única vez que conseguiu ser encontrou Di Maria livre para fazer
o gol salvador. O sofrido e suado gol da passagem para as quartas de finais.
Foram precisos, no entanto, 117 minutos para este resultado parco. Tudo bem foi
um lampejo? Foi. Mas, um lampejo que precisou de determinação, de paciência e
de talento. A verdade é que, desorganizado e desanimado, depois de martelar
inutilmente por tanto tempo, o time argentino conseguiu impor a vitória do
talento contra a aplicação. Estava escrito que assim seria, mas, não há dúvida
de que o gol, o alívio, foi tão extenso, tão profundo quanto o sofrimento e,
por isto, só por isto, esta é um vitória imensa, quase heroica mesmo, que vai
proporcionar ao time argentino, na noite desta vitória, a sensação de que
venceram o exército invencível. E o futebol escreveu nesta terça-feira mais uma
página épica de emoção e de glória.
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